segunda-feira, 20 de abril de 2009

Nevelsário

Viver é uma aventura perigosa

Vamos nos imaginar em um grande romance. O autor cria suas personagens, porém elas crescem ou não na trama, dependendo de como suas vidas vão ganhando complexidade e suas histórias se tornam mais e mais interessantes. O autor já não domina suas personagens. Elas é que, conquistando vida própria, dão o tom e definem seus destinos.

Tem personagem que entra lá pela pagina 43 e sai na 312, sem fazer a menor diferença, sem marcar sua passagem. Tem personagem que só fica um pequeno capítulo e muda a história do livro. Tem personagem que marca até mesmo por ser uma memória de valor, influenciando a vida de várias outras personagens.

Somos personagens da história humana. Porém, que papel estamos representando? E, principalmente, que história é essa que estamos ajudando a escrever? Não podemos nos permitir um papel de esmaecida palidez na vida. Nossa existência tem de se fazer valer. Experimentar, testar, brincar, errar e recomeçar, acertar e comemorar. Mas de uma vida, trajetória colorida de alguém que, de fato, existiu.

E existir é ganhar consciência sobre si mesmo. Tem personagem que não se dá conta da própria existência, aparece e desaparece sem saber que já viveu. Ganhar consciência é sempre perigoso, pois nos coloca em situação de decisão, de dizer como vamos nos comportar nos próximos capítulos, como vai ser a continuidade da história depois de nossa ação.

A consciência é resultado de uma aprendizagem, uma experimentação, uma ação que nos permita perceber mais da realidade, descobrir sobre nós mesmos e ampliar nossas habilidades em ser e fazer. Há sempre perigo aí, como diz um ditado alemão, pois depois de alfabetizado ninguém passa mais por um cartaz sem ler. A consciência é assim. Por onde a gente for, ela vai junto, cobrando uma mudança, exigindo uma resposta, pressionando por uma ação. É um remédio meio amargo para o mal de não existir, contudo é o que nos dá a autonomia da existência, o livre arbítrio, visão de si mesmo. É a cura que precisamos para compor essa experiência fugaz que costumamos chamar de felicidade. É claro que há personagens felizes em serem simples personagens inconscientes. Deve ser feliz o boi que pasta placidamente no campo, sem ter consciência de que é um boi. Ou a lebre, que corre feliz pelos campos e só se percebe existência quando, com o coração acelerado, vê a vida se esvaindo nas garras do felino. Consciência transitória e, por isso mesmo, triste momento.

Nos inolvidáveis romances, percebemos a grandeza da personagem que assume seu compromisso de tomar decisões sobre a vida, que sofre por amor, que briga pela dignidade de ser quem é, luta contra preconceitos, se bate contra a injustiça, nos faz vibrar pela sua fé inabalável em um final feliz. Personagens repletas de alma, plenas de existência e, por isso mesmo, marcantes, inesquecíveis.

Podemos viver como bela adormecida, onde toda a história se passa enquanto repousamos em suave dormência. Todavia, o melhor mesmo é ser o aventureiro que busca tesouros, conquista grandes amores, corre riscos extremos, mas vive cada momento da trama. Não sei se o perigo maior é confrontar perigos ou adormecer na esperança de que alguém nos salve. Tem muita personagem dormindo para a própria existência, esperando um salvador, uma resgate para uma outra vida. Porém esse romance é único, vai acabar na página 621 e, mesmo com continuação, já não será mais a mesma história.

Também não vale a pena ser uma grande personagem em uma história ruim. Temos de extrapolar o poder de ditar a própria existência e escrever também a história do mundo. Viver é uma bela obra e ser protagonista dela é o ápice da grandeza de uma personagem. Que personagem é você e que obra você está compondo? Ao fechar o livro dessa história, nossa existência deve deixar uma forte impressão na mente do leitor, que coexiste conosco. O melhor mesmo é sermos personagens tão inesquecíveis que o leitor vai querer ler de novo, pois está com saudades da gente.

Artigo extraído da Revista Amanhã – Ed. Nº 180 – Agosto/2002, de autoria de Dulce Magalhães, doutora em Planejamento de Carreira pela Universidade de Colúmbia e sócia da Work Educação Empresarial de Florianópolis/SC – www.work.com.brwork@work.com.br

-------------------------------------------------------------------------------

Alguém aí pode estar se perguntando, por que, afinal, este preâmbulo e com a ilustração característica de "nevelsário" no CCC?? Ora, bolas!! Porque hoje é dia do aniversário do grande Denis Rocha. E aposta-se, ele vai gostar de ler a mensagem. Aliás, nem se descarta a possibilidade de ele já conhecer o texto. Se sim, aposta-se também que vá gostar de reler.

Senhor "nevelsariante" de hoje, digníssimo Antônio Denis Rocha, se não gostar do texto (o que cremos, seja pouco provável), cabem os seguintes esclarecimentos:

Pro CCC, você não é um "personagem" que simplesmente passa e sai do romance de nossas vidas. A sua influência está tatuada na pele de vários outros personagens. E é visível demais a sua atuação "experimentando, testando, brincando, errando e recomeçando, acertando e comemorando". Mas, principalmente, colorindo sua trajetória com matizes de alguém que, de fato, existe. Somos felizes testemunhas. Como retratado no texto, o seu personagem não teme decidir e, por isso, às vezes, sofre. Mas não arreda o pé de querer ser feliz.

Nosso livro continua sendo escrito. As novas gerações estão a dar continuidade a esse romance. Que o seu personagem continue em ascensão, atuante, presente e, sobretudo, com a felicidade como companheira.

Parabéns pelo aniversário, Doutor Tubarão!!

PS: Como o CCC não costuma mascarar a verdade, esclarecemos que a foto acima, da pescaria, teve uma "fotoshopeada" (para incluir um peixe, digamos, "maiózim", claro)

Viver é bão demais, né, sô!!??

Um comentário:

totonho rocha disse...

...é Compadre viver é bão dimais... e quanto mais a gente vive mais a gente gosta e quer viver mais...posso garantir... principalmente quando se está rodeado por uma família gostosa como a nossa... cheia de gente tão boa quanto necessário para dar esse caldão delicioso.
Fiquei feliz não apenas com as palavras suas e da doce (doutora) Dulce mas principalmente por saber que Vc gastou comigo este tempo... o tempo que é nosso bem mais valioso... o único bem que não sabemos ao certo quanto temos.
Valeu compadre....
Viver é bão dimais mas conviver é muito mió!!!
Totonho Rocha, 58